sexta-feira, 15 de abril de 2011

FÁBRICA DE DIPLOMAS? RESPEITEM AS INDÚSTRIAS!

FÁBRICA DE DIPLOMAS? RESPEITEM AS INDÚSTRIAS!*

Rodrigo Santos**

É comum ouvir pessoas leigas, ou mesmo “notórios especialistas” em educação, dirigirem-se a instituições de ensino superior de pouca qualidade, que infelizmente são maioria hoje, adjetivando-as como “fábricas de diplomas”. Não obstante, cabe-nos analisar alguns aspectos da indústria nacional, confrontando-os com as práticas das Faculdades e Universidades Brasileiras nos últimos tempos, para tentarmos colocar as coisas em seu devido lugar.

Quando desafiada pelo processo de globalização, a economia brasileira abriu-se, sem muito critério é bem verdade, no início dos anos noventa. Isto desencadeou um processo de grande depuração das fábricas, que culminou no fechamento de empresas pouco preparadas, surgimento de outras e inegável modernização do parque industrial brasileiro em geral.

Já no caso do ensino superior, esta abertura de mercado se deu de forma indiscriminada e em nada contribuiu para efetiva melhoria de sua práxis, já que não instituiu critérios rígidos de avaliação na porta de entrada, franqueando autorizações de funcionamento quase que graciosamente, o que se configurou em enorme dificuldade para “apertar o gargalo” na porta de saída do reconhecimento definitivo. Mesmo as poucas que foram impedidas de continuar funcionando, após a avaliação pelo Ministério da Educação, geralmente no quarto ou quinto ano de funcionamento, já haviam deixado um prejuízo incomensurável pra sociedade, com reflexos para a carreira de milhares de jovens e para a vida de suas famílias.

As indústrias brasileiras, mesmo eivadas de capital internacional e inserindo-se em rincões com cultura diversa dos seus locais de origem, têm sido obrigadas a atentarem para temas como interculturalidade e diversidade, já que sofrem pressões de todos os lados por parte dos seus stakeholders. Enquanto isso, as faculdades privadas – também algumas públicas, através de “fundações parceiras” – vêm sendo sistematicamente absorvidas por grandes conglomerados financeiros internacionais que trazem, juntamente com seus dólares, todo o seu modus fasciendi.

Estes “mega investidores da deseducação” ignoram solenemente qualquer idiossincrasia e particularidade regional quando compram e se instalam, não permitindo o mínimo de autonomia por parte de professores e “gestores” locais. Estes se transformaram, forçadamente, em verdadeiros “capatazes” da execução deste “neotaylorismo academicista” que os grandes grupos apresentam pela sua perspectiva da “school in the box”, que promove a “McDonaldização” das instituições por todo o território. Além de incutir os conceitos que lhes convém na mente dos nossos jovens, já combalida por uma educação básica “de última”, estas “psedofábricas” vão de encontro a todos os ditames da “moderna produção”, com uma “linha de montagem” cheirando a mofo.

Enquanto a maioria dos empresários de vanguarda no capitalismo mundial, da indústria ou não, têm desonerado o estado, doado vultosas quantias para pesquisa e extensão em países desenvolvidos, sendo os recursos públicos destinados, prioritariamente, para a educação básica, no Brasil, Faculdades e Universidades privadas são patrocinadas, sobretudo, pelo dinheiro público. Este dinheiro jorra, a mancheias e sem qualquer critério razoável, para os cofres destas instituições, numa perversa inversão de prioridades que, além de roubar recursos de outros níveis de educação estratégicos para o país, incentiva a letargia e a falta de criatividade destes elefantes de concreto.

Longe de querer encobrir os defeitos do empresariado brasileiro, que ainda carece, em muito, de sofisticação, altruísmo e, até mesmo, preparo. Mas, a verdade é que, com raríssimas exceções, a indústria brasileira, tem pautado sua práxis em processos de melhoria contínua, no que tange a gestão pela qualidade, governança corporativa, ética nas relações de consumo e responsabilidade socioambiental. Tais conceitos, não obstante a retórica vazia dos “seminários interdisciplinares” e das enfadonhas semanas pedagógicas, passam ao largo da maioria das práticas de instituições de ensino do país.

Portanto, chamar algumas Faculdades e Universidades de “fábricas de diplomas” é, mais que um erro conceitual grave, um enorme desrespeito a indústria nacional que, aos trancos e barrancos, vem se profissionalizando frente às instituições de ensino numa proporção Ferrari X Lada (que me desculpem os russos).

Por favor, RESPEITEM AS FÁBRICAS!



* Extraído do site: www.rodrigosantos.com

** Educador e palestrante.

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