segunda-feira, 4 de abril de 2011

ESTUDO DE CASO: A INTER E A TRANSDISCIPLINARIDADE NA PRÁXIS PEDAGÓGICA DE UMA FACULDADE DE SALVADOR

Mestranda: Adriana Pinheiro

Graduação em Ciências Sociais/UFBA e Especialista em Psicopedagogia/UFBA

Orientadora no Mestrado: Profª Drª Maria Virgínia Dazzani

O estudo proposto pretende resgatar a linha histórica dos modus de construção do conhecimento, identificando quando e como ocorreu a sua fragmentação, seus processos e percursos até a contemporaneidade. Articular e compreender como as formas de construção do conhecimento, embora estejam fortemente arraigadas na epistemologia genética, estão também profundamente vinculadas ao seu contexto sócio-cultural mais amplo.

O debate sobre a interdisplinaridade, na perspectiva da transdisciplinaridade, tem assumido um caráter de grande relevância, na academia. O próprio MEC, nos documentos e legislação que respaldam os processos de regulação das IES, assim como nos parâmetros curriculares dos cursos do Ensino Superior, evidencia a importância de uma prática contextualizada com esses conceitos. Isso tem feito com que os diversos tipos de unidades acadêmicas assumam esse discurso, contemplando nos seus currículos formas variadas de composição de uma práxis pedagógica que permita o diálogo entre as áreas do conhecimento ou mesmo a quebra das suas fronteiras.

A constatação da ineficiência/ineficácia da fragmentação do conhecimento para dar conta de fenômenos cada vez mais complexos, relaciona-se, diretamente, com as contínuas mutações do sistema econômico global, embora esse aspecto ou variável não seja ainda, amplamente tratada por nenhum autor. Não é por acaso que a fragmentação do conhecimento se acentua enormemente na era industrial, inserida num processo de consolidação da divisão social do trabalho, mas entra em crise com as novas matrizes econômicas e sociais pós-modernas.

A busca por uma visão holística é, também, uma exigência dos novos paradigmas de empregabilidade, em atendimento às exigências do processo de reestruturação produtiva. O sistema capitalista, no seu processo de renovação, necessita, e por isso impõe, um novo tipo de trabalhador. Esse novo modelo, que rompe com a perspectiva taylorista/fordista, predominante até meados do século XX, pressupõe uma nova divisão social do trabalho, fundada não mais na divisão estática das tarefas, na fragmentação do mesmo, mas na crítica à especialização do trabalho, uma vez que exige do trabalhador uma visão do todo, assim como múltiplas competências para adequar-se, rapidamente, a várias funções.

Ciclicamente, o sistema entra em crise, mas se renova a partir dessa crise. Qual é a crise: o esgotamento do sistema dentro do seu modelo de origem, de fragmentação, inclusive do saber. A complexificação das sociedades nas últimas décadas, efeito direto da globalização e do avanço da tecnologia, teve um papel preponderante no desencadear da obsolescência do modelo vigente, forçando a necessidade de reformulação do sistema como um todo, fundamentando-se não mais na fragmentação, na especialização, na cisão entre as áreas do conhecimento, mas na recomposição, na compreensão do complexus que o constitui, uma vez que a compreensão das relações entre as partes se tornou mais importante e estratégica para sobrevivência do sistema.

O estudo proposto parte, portanto, de uma premissa dialética e dialógica, ao sinalizar para uma abordagem que vincula diferentes campos de conhecimento, possibilitando um estudo que, em sua essência, correlaciona-se às teorias da multirreferencialidade e da complexidade, como forma de desenvolver um estudo fundado na reflexibilidade para dar conta da compreensão dos conceitos de inter e transdisciplinaridade, incorporando ao discurso deflagrado pela academia as variáveis relacionadas aos conceitos de cultura e poder.

Entretanto, a percepção empírica das interferências que essas perspectivas produzem no cotidiano da academia, conduz à inferência de que a aprendizagem, estando vinculada a um contexto de fragmentação do conhecimento, ocorre, também, de forma fragmentada, consubstanciada que está na matriz cultural desse tempo, representando limites ao sujeito cognoscente. Portanto, à exeqüibilidade da noção de inter e transdisciplinaridade, o que constitui uma contradição em relação às teorias e exigências postas.

Percebe-se que a interdisciplinaridade, e mesmo a transdiciplinaridade, é, hoje, condição sine qua non para o desenvolvimento do conhecimento científico, uma vez que as fronteiras entre as áreas de conhecimento tornam-se cada vez mais estreitas. A teoria do caos, utilizando-se da metáfora do efeito borboleta, evidencia de forma clara essa compreensão para dar conta do funcionamento dos sistemas complexos e dinâmicos, o que se aplica, também, à educação. Também as teorias da multirreferencialidade e da complexidade o fazem. Entretanto o grande paradoxo é o fato de docentes e discente não se aperceberem dessas interações, desse diálogo, reproduzindo, ainda, o modelo de fragmentação.

A discussão sobre a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade não se constitui como algo novo. Muito tem sido desenvolvido sobre essas abordagens. Entretanto, toda essa produção situa-se muito mais no âmbito conceitual, que no âmbito da práxis pedagógica e muito menos na compreensão dos significados atribuídos pelos docentes e discentes à sua prática. É esse o fio condutor do estudo proposto, como forma tecer um discurso vivenciado pela práxis. Torna-se relevante à medida que articula novas variáveis a esses conceitos, buscando compreender os sentidos e contradições subjacentes à sua difusão e apropriação, pela academia.

O contexto da pesquisa será uma IES privada, sem fins lucrativos, fortemente vinculada a uma proposta de inclusão social, via educação superior de qualidade, voltada para segmentos sociais historicamente excluídos. Essa IES vem desenvolvendo uma proposta de pesquisa interdisciplinar que já faz parte da sua cultura acadêmica.

A escolha do contexto para o estudo de caso que integra a pesquisa não se dá casualmente: a vivência de cinco anos, ligada diretamente à gestão pedagógica e docência dessa IES possibilita não só um estudo “de dentro”, mas, também, representa a possibilidade de intervir no contexto, dada a relação cooperativa que estabelecem.

Trata-se, portanto, em lançar um olhar e escuta sensíveis sobre os sujeitos inseridos no contexto acadêmico das práticas interdisciplinares e transdisciplinares, especialmente dos docentes e discentes, para que se perceba a compreensão própria, as dificuldades e apreensões desencadeadas por estas formas de abordagem do conhecimento. Mas, também, a sua efetividade prática.

PROBLEMA: Como os conceitos da inter e transdisciplinaridade se situam na práxis pedagógica e que significados produzem para docentes e discentes?

OBJETIVO GERAL:
Desenvolver um estudo de caso a partir da proposta de Pesquisa Interdisciplinar implantada em uma IES de Salvador, como forma de apreender como os conceitos da inter e transdisciplinaridade se situam na práxis pedagógica e quais significados produzem para docentes e discentes.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
  1. Identificar e compreender os momentos de cisão do conhecimento que deflagraram o processo de disciplinarização para, a partir desse reconhecimento, dar conta do surgimento e ascensão do discurso da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade.
  2. Relatar as dificuldades decorrentes da implantação dessa proposta e suas determinantes.

METODOLOGIA: Utilizar-se-á uma abordagem qualitativa, realizada através de estudo de caso. Outras estratégias de verificação poderão ser acopladas à pesquisa, à exemplo da análise documental, grupo focal e entrevista.


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