segunda-feira, 11 de abril de 2011

O DOCUMENTÁRIO "TRABALHO INTERNO" E A CAMPANHA GOVERNAMENTAL AMERICANA PELO "FIM" DA ESCOLA PÚBLICA "ESPERANDO O SUPERMAN": O Império em Ruínas?

A obra “Trabalho interno” tem como objetivo apresentar a forma e o conteúdo interno que influenciou a última grande perda de capitais em todo o mundo, que chegou a 20 trilhões de dólares. Os dados apresentados foram coletados a partir de informações oficiais do governo americano e de entrevistas com os envolvidos direta ou indiretamente  –  economistas, investidores, empresários, professores de economia de universidades americanas - com o “trabalho interno”. No entanto, me pareceu que o foco central da análise perpassou uma dimensão ético-política, individualizando as ações que deflagraram as “bolhas”, que, na verdade, são as fugas de capitais no jogo perigoso das “apostas” financeiras.
A desregulamentação foi a palavra mais utilizada para explicar a crise financeira. A desregulamentação significa um menor poder de intervenção do Estado na economia do seu país. A “bolha” que se formou na Islândia quebrando os bancos e exaurindo as poupanças dos cidadãos caracteriza bem esta situação logo nos primeiros seis minutos de exibição da obra.
No entanto, apesar dos dados apresentados evidenciarem a problemática que gerou a crise, e até mesmo um pequeno recorte histórico para ilustrar os representantes do poder das crises em períodos anteriores, em análise, a exposição da obra não passa de uma compreensão fenomênica da realidade, que, nesse caso, não se sustenta pela própria dinâmica da crise estrutural do capital na atualidade, em sua fase capitalista, como veremos abaixo.
Defendo a tese (não sei se eu tenho condições de defender algo) de que a crise não está no plano ético-político, como a mesma evidencia, mas sim, a crise está nas relações de valorização desenvolvidas historicamente, e que na atualidade articulam os três pitares que dão sustentação ao que Mészáros (2002) define como “mecanismo de reprodução sociometabólica do capital”: Estado - Capital – Trabalho.
A crise está num outro plano, no plano do capital. Segundo Marx (2003), o capital é uma relação social, quer dizer, é produzido historicamente nas relações entre seres humanos. A tese naturalista da Economia Política Clássica acerca do valor, como se esse fosse intrínseco à mercadoria, cai por terra, pois, para o processo de valorização do capital são necessários, no mínimo, os meios de produção e as forças de trabalho. A mercadoria é a expressão mais elementar da riqueza do capital em sua fase capitalista.
Em análise recente acerca do Capital, Mészáros (2000), na obra Para além do capital, defende haver, na atualidade do capitalismo, o que chama de “mecanismo de reprodução sociometabólica do capital”. Segundo Mészáros, este “mecanismo pode ser definido como o complexo caracterizado pela divisão hierárquica do trabalho, que subordina suas funções vitais ao capital, como também as suas inter-relações com o Estado moderno. Para Mészáros o sistema de sociometabolismo do capital é mais poderoso e abrangente, tendo seu núcleo constitutivo formado pelo tripé capital, trabalho e Estado, sendo que estas três dimensões fundamentais do sistema são materialmente constituídas e inter-relacionadas, e é impossível superar o capital sem a eliminação do conjunto dos elementos que compreende este sistema”.
Com relação ao Estado moderno, Mészáros afirma o seguinte:    “A formação do Estado moderno é uma exigência absoluta para assegurar e proteger permanentemente a produtividade do sistema. O capital chegou à dominância do reino da produção material paralelamente ao desenvolvimento das práticas políticas totalizadoras que dão forma ao Estado moderno. Portanto, não é acidental que o encerramento da ascensão histórica do capital no século XX coincida com a crise do Estado moderno em todas as suas formas, desde os Estados de formação liberal-democrática até os Estados capitalistas de extremo autoritarismo (...) Compreensivelmente, a atual crise estrutural do capital afeta em profundidade todas as instituições do Estado e os métodos organizacionais correspondentes. Junto com esta crise vem a crise política em geral, sob todos os aspectos, e não somente sob os diretamente preocupados com a legitimação ideológica de qualquer sistema particular de Estado” (MESZÁRÓS, 2002:106-107).
Todo este contexto de conflitos gera desequilíbrios na estrutura do capital levando à ausência de unidade, fundamentalmente, em três aspectos principais para a sustentação e desenvolvimento do sociometabolismo do capital - produção e controle, produção e consumo e, produção e circulação (MÉSZÁROS, 2002:107-111) -, promovendo uma maior intensificação das retificações por parte do Estado: “em sua modalidade histórica específica, o Estado moderno passa a existir, acima de tudo, para poder exercer o controle abrangente sobre as forças centrífugas insubmissas que emanam de unidades produtivas isoladas do capital, num sistema reprodutivo social antagonicamente estruturado, (...) grande mobilidade e dinamismo” (Ibid.:107).
Qualquer semelhança dos elementos enunciados acima por Mészáros não é mera coincidência com a perda de capitais ocorrida em 2007-2008, com a crise do imperialismo americano, e a crise das ditaduras no oriente médio. A crise, segundo o autor, não está puramente no capital, ou no estado, ou no trabalho, a crise está na relação sociometabólica desenvolvida entre eles na história deste modo de produção e de suas crises, primeiramente, crises cíclicas, posteriormente, crises estruturais como a ocorrida nas últimas quatro décadas. A primeira grande crise se deu em 1929, caracteriza por Sader (2010) como o fim da hegemonia do período liberal; a segunda crise se deu nas décadas de 1950-60, e caracterizou-se pela crise do modelo Keynesiano ou regulador, o Estado é o controlador; A terceira crise se dá em 1970-1980, e se caracteriza pelo renascimento do liberalismo sob nova roupagem, auto denominado Neoliberalismo. Um de seus principais intelectuais foi o ganhador do prêmio Nobel de economia, o Milton Friedman, na obra Liberdade de Escolher – o novo liberalismo econômico, publicado em sua versão original em 1979; a quarta crise se deu em 2007-2008, caracterizada pela crise do neoliberalismo, especialmente a partir da dialética “regulamentação-desregulamentação”, quer dizer, a influência em maior ou menor instância do estado na economia capitalista.
Os impactos da crise estrutural do capital na educação brasileira são alarmantes, mesmo depois de uma “retomada do crescimento” o país, em seu novo governo, centra suas forças em avaliação das despesas e regulamentação de cortes de gastos públicos, impactando diretamente na educação escolar e na universidade. As relações entre público e privado na educação brasileira tendem a se ampliar, visto o atual quadro internacional com relação ao desmonte da educação pública, especialmente na Europa e Estados Unidos. Sobre este último, logo abaixo trazemos algumas informações e análises iniciais sobre o processo que vem sendo desenvolvido neste país com relação ao desmanche da escola pública americana.
A tese do governo e das fundações (estas últimas, na atualidade, estão definindo o futuro da educação do país, o seu financiamento para a educação chega a 60 bilhões de dólares) é que as escolas públicas americanas estão formando uma imensidão de desertores, ou como definem os mesmos: uma  "fábrica de desertores". Segundo as estatísticas baseadas em exames de matemática realizados em todos os estados, os alunos que possuem conhecimento matemático estão entre 25% e 30% da população estatal. Em Washington, capital do país, a situação é ainda pior, os índices só alcançam 12%. Esta análise de níveis de conhecimento matemático dos alunos nos leva a pensar em algumas hipóteses com relação ao que o prof. John Bellamy Foster -  (University of Oregon/EUA, americano, palestrande da conferência de abertura do V EBEM, em 11 de abril de 2011) define como taylorização da escola. Junto com a taylorização vem a ofensiva aos sindicatos, a precarização das escolas públicas, fundado na premissa de que os investimentos não estão trazendo resultado... Não sei ao certo, mas me parece que este filme nós já vimos aqui no Brasil:  primeiro com teoria da escola dualista, segundo com a teoria do capital humano e terceiro com a privatização da educação brasileira na década de 1990. Então, acredito que teremos muito a ensinar a estes professores e sindicalistas americanos no campo das lutas políticas sindicais  docentes. As lições servirão como diretrizes para orientar a luta.  Os dados com relação ao contexto americano foram extraídos da conferência de abertura do V Encontro Brasileiro de Educação e Marxismo. No mais, a crise estrutural do capital evidenciada em "Trabalho Interno" e, agora, em "Esperando o Superman" nos revela as contradições do "Império em Ruínas". 

 O vídeo abaixo refere-se  a campanha governamental.

Abraços
Leonan

Nenhum comentário:

Postar um comentário