quarta-feira, 16 de março de 2011

Ponto de Vista

Durante a aula ouvi menção, algumas vezes, à infra-estrutura oferecida pela vizinha, “irmã rica”, Faculdade de Administração.  Sempre num paralelo com a precariedade e falta de recursos da FACED. Como estamos discutindo Educação, Sociedade e Práxis Pedagógica, achei pertinente trazer um pouco do aprendizado que tenho tido na convivência com os administradores e que considero importante para repensar a práxis da educação.

Há um mito em torno do qual a Educação deve ser um campo guiado por uma espécie de “tratado de boas intenções”, onde educadores e agentes envolvidos devem estar imbuídos do velho espírito “franciscano” de “doação”, “devoção” e   “dedicação desinteressada”. O que vejo, no entanto, é que falta objetividade e estratégia para a Educação. Fala-se demais e se faz pouco. Muitas elucubrações descabidas e não-factíveis.

Já a Administração, ao contrário, persegue obstinadamente os resultados. E por isso dedicam parte do seu tempo na definição de um planejamento que trace, estrategicamente, as ações que conduzirão a esses resultados, criando objetivos e metas precisos, com definição de prazos e critérios específicos.

Há, certamente, quem se referirá a esse perfil com vínculos ao viés capitalista, de busca pelo lucro, e desinteresse pelas questões sociais. Esse é mais um mito! E que serve apenas para justificar as impossibilidades e criar estereótipos que interpõem barreiras para aprendizagens mútuas!

A ciência da administração tem avançado em busca de uma práxis implicada com as demandas do seu tempo e daí a recorrente discussão sobre responsabilidade social, sustentabilidade, inclusão, economia solidária... entre outros.

Educadores não são franciscanos e a educação precisa, sim, de recursos, e o educador precisa, sim, de reconhecimento social e boa remuneração. A “queixa” constante é um “sintoma”, bem na linha freudiana, que sinaliza recalques e paralisa.

É preciso se apropriar, entre outros, da teoria e práxis da administração para criar as estratégias necessárias para uma mudança de rumos na Educação. O que somos? O que queremos? Onde estamos? Onde queremos chegar? Quais são nossos pontos fortes? Quais são nossos pontos fracos? Quais as nossas ameaças? Quais as nossas oportunidades?

Realisticamente, devemos conhecer o nosso público para traçar metas factíveis. E isso implica numa espécie de pesquisa de mercado! Pensar na utilidade do conhecimento que produzimos. Em que medida ele contribui para uma mudança social (não é isso que perseguimos?)? Mas uma mudança real! Utilitarista essa posição? Bem, a minha incursão pela Antropologia me autoriza a afirmar que todo o processo de desenvolvimento da cultura humana esteve fundada no princípio da utilidade, da necessidade, logo, das demandas!

Já tive, por exemplo, a oportunidade de ver professores que falam da ludicidade e da arte na educação e dão uma aula totalmente “chata”, comum, sem relações de coerência com o discurso que empunham. E, nesse caso, a educação jamais será uma arma potente para a mudança social. Porque há uma fala de Paulo Freire, que não sei em qual lugar do “estado da arte” se situa, mas que me parece condição sine qua non para quaisquer intervenções no campo da educação: a reificação da palavra pelo exemplo. E isso não vale só para as crianças, que aprendem pela imitação. O adolescente, o jovem, o adulto, o velho (brancos, pretos, amarelos e coloridos)... todos buscam essa relação de coerência e é com base nela que selecionarão exemplos significativos para suas vidas.

Também na Educação, devemos perseguir, obstinadamente, os resultados! Fico impressionada com a quantidade de leis que temos, a profusão de “planos” que criamos, e a Educação não muda!

Culpa dos políticos e da política! Culpa do sistema! Culpa da estrutura! Minha nossa!!!! Tenho um grande amigo, diretor teatral, que reclama sobre os seus atores que faltam aos ensaios com o argumento que não se faz teatro com desculpas (o ônibus, o médico, o chefe, a cólica, a blitz... ). Quero parafraseá-lo para dizer que não se faz uma boa educação com palavras bonitas! Muito menos com desculpas! Uma boa Educação se faz com atitude! E as atitudes que buscam obter resultados têm que ter objetividade. E deve ser, talvez, essa a diferença dos irmãos ricos e dos irmãos pobres.

(Esse texto é apenas um ponto de vista, fora de hora, que não aspira status acadêmico. Continua firme minha colaboração para o dia 22/03!)


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