domingo, 27 de março de 2011

A outra e a mesma questão

Mas depois dessa resumíssimo da aula, gostaria de trazer uma outra reflexão. Que me surgiu agora, de última hora. Mas como penso rápido, pensei que seria um bom tema para discutir Educação, Sociedade e Práxis Pedagógica. Muito embora, pouco convencional, como a contribuição anterior que trouxe.

Acontece que recebi uma mensagem de celular avisando que o programa Esquenta!, que tem passado aos domingos na Globo, abordaria o tema Autismo. Como tenho me interessado, entre outras coisas, pela temática de inclusão, liguei a TV para ver.

A abordagem sobre Autismo foi relâmpago. Mas o programa pareceu interessante e continuei assistindo. A apresentadora, Regina Casé, tem uma habilidade particular de transitar pela cultura do povo e ver isso me pareceu agradável, uma estética meio confusa e original. Aliás, essa é a proposta do programa: um domingão de família, regado a música, bem popular, e diversos quadros que trazem o cômico e a vida, retratando o dia-a-dia daquelas pessoas.

Imagino que ficaria chato descrever os quadros que achei interessante. Mas por detrás de todas essas minhas impressões, ficou um cenário e um texto: a academia e o seu distanciamento da realidade nua e crua do povo. Uma percepção que tem muita a ver com uma das abordagens do professor Miguel Bordas, na última aula, sobre o maior inimigo que temos ser o próprio pensamento que acredita que conhece, quando tem, na verdade, apenas uma fotografia da realidade. E pensando com Heráclito, eu indagaria: que realidade? O que é a realidade, se tudo muda na fração infinitesimal do segundo?

Ao entrar na academia, inserimo-nos num novo ethos. O intelectual da academia deve ter um refinamento condizente com seus anos de estudo. O conhecimento produz um “aprimoramento” das pessoas... talvez seja esse olhar crítico... talvez conhecer as engrenagens de poder que movem os interesses e as ações, imponha um olhar mais cético, mais sério. Naturalmente, uma nova identidade vai se firmando, só que  muitas vezes negando as origens e os interesses que parecem “alienados”, no sentido que o senso-comum propõe ao termo.

A Educação é um campo de tensões ideológicas que reflete os interesses de uma sociedade capitalista, fundada, portanto, no interjogo de poder e dominação que permite que se reproduzam as estruturas basilares do sistema. Não há, portanto, como dissociar Educação e Sociedade. Estão imbricados, implicados, reciprocamente. E a práxis pedagógica irá refletir essas tensões e assumir seu partido. Nem sempre consciente, porque também o educador, individual e coletivamente, está imbricado e implicado, reciprocamente, com a sociedade do seu tempo. Bourdieu é uma referência obrigatória, nessa abordagem.

E porque somos parte da sociedade e a sociedade é parte de nós, não é possível promover essa separação sem incorrer no erro da ilusão, dentro da abordagem trazida por Morin. O estudo que tem a sociedade como objeto, distancia-se daquilo que se propõe entender, porque os sentidos e as práticas só são compreendidas enquanto sentidos e práticas vividas. Pode parecer chocante, mas a cultura popular e seus ditos ajudam muito: pimenta é refresco nos olhos dos outros! Alguém já se propôs a estudar a sabedoria desses ditos? Ou preferimos, por conveniência, os não-ditos?

Pesquisamos para quem? Escrevemos para quem? Há uma relação endógena nessa pesquisa e nessas práticas que as tornam híbridas... chamas apenas para a fogueira das vaidades.

O que trago de reflexão, e para refletir, eu mesma incluída, é o poder transformador do que vamos pesquisar ou estamos pesquisando. De que lugar? Para quem? Para quê? Como olhamos para o “povão”? Mas isso, claro, só faz sentido se concebemos a nossa prática como prática que visa a libertação... Então teremos que reformular tudo! Inclusive a linguagem... Só para não perder a conexão com o início do texto, que começou com o “Esquenta!” e a sua "cara de povo".

(um dia ainda me incendeiam nessa fogueira! rsrsrs...)

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