domingo, 8 de maio de 2011

MARX, ANTI-RACISTA


Dileto Marcelo,

Estou lhe remetendo alguns pequenos textos que apresentam um aspecto do pensamento e da ação de Marx diferentes daquele sugerido pelos extratos que você me enviou. Faço-o com o simples propósito de alimentar um debate sempre oportuno e relevante sobre o pensamento e a ação do demiurgo da filosofia da práxis e principal expressão do socialismo contemporâneo. No caso em questão, a problemática evocada não diz respeito apenas às opiniões que Marx teria cultivado sobre os negros e demais povos não europeus. Mas também, se Marx era eurocêntrico e, com base nesta resposta, se elementos de seu legado teórico-político podem ser utilizados como fator de inspiração para as lutas de negros e de outros grupos ditos “minoritários”, pela emancipação. Minha posição a este respeito é muito clara, Marx foi um personagem diretamente comprometido com as mais importantes lutas anti-racistas do século XIX: a luta contra a escravidão e a oposição ao colonialismo.
Tal comprometimento aparece nitidamente em suas intervenções nas páginas do jornal abolicionista republicano estadunidense New York Daily Tribune, entre 1851 e 1865, bem como à frente do Conselho geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T.) entre 1864-1872. Este seu envolvimento público e aberto, contribuindo para a formação de uma opinião anti-escravista e anticolonialista nos países anglo-saxões (o Tribune era um dos jornais mais lidos nos EUA e amplamente difundido na Inglaterra) e mobilizando a solidariedade da parcela esclarecida do proletariado europeu para estas lutas, tiveram um significado prático incomparavelmente maior do que seu mau gosto para piadas, sua “incorreção política” avant la lettre  e suas bravatas preconceituosas manifestadas na correspondência privada.
O Mouro, expressão que na Europa do século XIX era quase sinônimo de negro, era o apelido de família de Karl Marx. Este alemão de tez mais escura e cabelos crespos descendia de judeus, talvez de algum dos “judeus que fugiram com Moisés do Egito”, como mencionado na escrachada carta que escreveu para Engels em 30 de Julho de 1862, com o objetivo de reclamar de Lassale. Ás voltas com problemas financeiros, Marx se ressentia por Lassale ocupar demasiado o seu tempo e atenção e, sem se comover com as dificuldades econômicas então vividas por Marx, dilapidava altas somas de dinheiro em gastos suntuosos e manobras especulativas, como um “Barão judeu”. Expressões destemperadas – como aceitar que um ex-adepto de Feuerbach pudesse acreditar na historicidade da narrativa bíblica do Êxodo?! – que demonstram o quanto Marx, ele mesmo um crioulo judeu, era permeável aos preconceitos de seu tempo, sem ser contudo suficiente para perfilá-lo com os racistas de seu tempo, pois para isto seria preciso que ele atuasse como aqueles racistas atuavam, defendendo publicamente as principais manifestações do racismo daqueles dias: a escravidão e o colonialismo.
Enfatizo que Marx foi um homem europeu do seu tempo. Embora suas idéias representem, de forma geral, o que havia de mais avançado naquele tempo, ele não esteve imune a certos preconceitos e estereótipos comuns à sua época. A reivindicação do seu legado em nossos dias não pode se confundir com a assimilação acrítica de idéias datadas ou limitadas histórica e culturalmente. Cabe aos cristãos imitar Jesus, aos marxistas, sintonizados com as exigências da contemporaneidade, cabe resgatar de Marx:

a)      O método dialético e materialista no estudo da trajetória das sociedades humanas;
b)      A caracterização geral feita por ele das estruturas e processos fundamentais do funcionamento do modo de produção capitalista;
c)      O comprometimento assumido por Marx ao longo de sua vida com as lutas em prol da emancipação humana, que em nossos dias inclui o combate pela emancipação social, étnica, racial, sexual, de gênero, etc, etc.
Qualquer outra iniciativa de se recuperar in totum as formulações e as atitudes de Marx tende a incorrer em atitudes talmudistas, fundamentalistas e acríticas. Que os adeptos das religiões reveladas atuem desta maneira é compreensível, mas não os marxistas, embora o número daqueles que assim o fazem seja muito maior do que o razoável.
Nas linhas que se seguem reproduzi alguns trechos de escritos de Marx que corroboram esta minha posição. Adotei para tal praticamente o mesmo procedimento da mensagem que você me enviou. Recolhi tais passagens meio aleatoriamente e de forma apenas ilustrativa, já que uma pesquisa exaustiva, que enriqueceria em muito minha demonstração, exigiria um tempo do qual não disponho. Apenas tive o cuidado de reproduzir o texto original com uma tradução de minha responsabilidade, para evitar qualquer suspeita de que “copidesquei” as formulações do Marx.
Quanto aos textos postos em circulação por Samuel Vida, dois pequenos reparos.
I)                   A passagem extraída da carta de Marx a Annenkov de 28/12/1848 não compromete Marx. As idéias ali expostas sobre as relações entre a escravidão e a liberdade são na verdade de Pierre Proudhon e foram reproduzidas por Marx com a finalidade de demonstrar a incompreensão de Proudhan acerca da dialética. Tal incompreensão está expressa na confusão feita pelo escritor francês entre a idéia hegeliana da unidade e luta dos contrários e a busca de aspectos positivos e negativos em cada termo da oposição mencionada, visando uma síntese entre eles. Tal confusão é apontada e ridicularizada por Marx naquele texto.
II)                O elogio engelsiano da tomada da Califórnia pelos enérgicos yankees, das mãos dos mexicanos preguiçosos, publicado na Nova Gazeta Renana (jornal dos círculos republicanos burgueses da Renânia do qual Marx foi editor) foi retificado pela reavaliação deste processo feita por Marx nas páginas do Die Presse, em outubro de 1861. Tal reavaliação aparece no texto, North American Civil War, reproduzido abaixo.
III)             As críticas contundentes de Engels (e Marx) ao movimento pan-eslavista, ainda que vazadas em uma linguagem, em vários aspectos, infeliz, se inscrevem na oposição obsessiva de Marx e Engels ao avanço da influência do czarismo russo (“o pior inimigo das liberdades”, segundo eles) nos movimentos progressistas do continente europeu no contexto da “Primavera dos Povos” (1848). Tal assunto foi abordado de forma exaustiva e não indulgente face aos destemperos verbais de Engels, por Roman Rosdolsky em seu Friedrich Engels y el Problema de los Pueblos “Sin História”, México Ediciones Pasado y Presente, 1980.
IV)             Por fim, as observações preconceituosas em relação a Lafargue (que lamentavelmente não consegui localizar o texto original, porém confio na honestidade de Samuel Vida) podem ser contrabalançadas com a narrativa realizada por August Nimtz Jr., acadêmico negro, professor de Ciência Política da Universidade de Minnesota, em seu Marx, Tocqueville and Race in America: The “Absolute Democracy” or “Defiled Republic Lanham, MD: Lexington Books, 2003. Do qual traduzo um pequeno extrato ao final desta mensagem.

Por último, Marcelão, peço a você a gentileza de reenviar estes apontamentos para a mesma lista que recebeu a mensagem anterior, inclusive para Eduardo Santiago e Samuel Vida, como manifestação de meu mais sincero sentimento de respeito e admiração por estes companheiros e com meu agradecimento por haverem trazido o tema à pauta de discussão.

Abraço fraterno,
Muniz Ferreira


MARX, ANTI-RACISTA

The Indian Revolt


Source: New-York Daily Tribune, September 16, 1857;

The outrages committed by the revolted Sepoys in India are indeed appalling, hideous, ineffable — such as one is prepared to meet – only in wars of insurrection, of nationalities, of races, and above all of religion; in one word, such as respectable England used to applaud when perpetrated by the Vendeans on the “Blues,” by the Spanish guerrillas on the infidel Frenchmen, by Servians on their German and Hungarian neighbors, by Croats on Viennese rebels, by Cavaignac’s Garde Mobile or Bonaparte’s Decembrists on the sons and daughters of proletarian France.
Tradução: As atrocidades cometidas pelos cipaios sublevados na Índia são verdadeiramente horripilantes, espantosas e indescritíveis, do tipo das que se pode esperar unicamente em guerras insurrecionais, nacionais, raciais e, principalmente, religiosas; em uma palavra, atrocidades como as perpetradas pelos vandeanos contra os azuis, pelas guerrilhas espanholas contra os infiéis franceses, os sérvios contra seus vizinhos alemães e húngaros, os croatas contra os vienenses rebeldes, a guarda móvel de Cavaignac ou os dezembristas de Bonaparte contra os filhos e filhas da França proletária.

However infamous the conduct of the Sepoys, it is only the reflex, in a concentrated form, of England’s own conduct in India, not only during the epoch of the foundation of her Eastern Empire, but even during the last ten years of a long-settled rule. To characterize that rule, it suffices to say that torture formed ail organic institution of its financial policy. There is something in human history like retribution: and it is a rule of historical retribution that its instrument be forged not by the offended, but by the offender himself.
Tradução: Por mais infame que seja a conduta dos cipaios, ela não é nada além de um reflexo concentrado da conduta da Inglaterra na Índia, não apenas durante a época da fundação de seu império oriental, como também durante os últimos dez anos de sua longa dominação. Para caracterizar esta dominação basta dizer que a tortura constituía uma instituição orgânica de sua política fiscal. Na história da humanidade existe algo parecido com a retribuição e é uma regra da retribuição histórica que seus instrumentos sejam forjados pelos próprios ofensores e não pelos ofendidos.

(…)And then it should not be forgotten that, while the cruelties of the English are related as acts of martial vigor, told simply, rapidly, without dwelling on disgusting details, the outrages of the natives, shocking as they are, are still deliberately exaggerated.
Tradução: Não se deve esquecer que, enquanto as crueldades dos ingleses eram relatadas como atos de valor marcial, narrados de forma breve e simples, sem se aprofundar nos pormenores desagradáveis, as atrocidades dos nativos, conquanto fossem chocantes, eram exageradas deliberadamente.

(…)The cutting of noses, breasts, &c., in one word, the horrid mutilations committed by the Sepoys, are of course more revolting to European feeling than the throwing of red-hot shell on Canton dwellings by a Secretary of the Manchester Peace Society, or the roasting of Arabs pent up in a cave by a French Marshal, or the flaying alive of British soldiers by the cat-o’-nine-tails under drum-head court-martial, or any other of the philanthropical appliances used in British penitentiary colonies.
Tradução: O corte de narizes, peitos, etc., em uma palavra, as horríveis mutilações praticadas pelos cipaios são naturalmente mais revoltantes para os sentimentos europeus do que o bombardeio de Cantão com balas incandescentes, ordenado pelo Secretário da Sociedade pela Paz de Manchester, ou a queima de árabes aprisionados em uma gruta por um marechal francês, ou o esfolamento vivo de soldados britânicos submetidos aos conselhos de guerra, ou ainda quaisquer outros procedimentos filantrópicos utilizados nas colônias penitenciárias britânicas.

The British Government and the Slave-Trade


Source: New-York Daily Tribune, July 2, 1858;

London, June 18, 1858
As to the question of the slave-trade itself, Spain was denounced by the Bishop of Oxford, as well as Lord Brougham, as the main stay of that nefarious traffic. (…).It was only ten years later that the penal law was carried; but, by a singular mischance, the principal clause contended for by England was left out, namely, that of making the slave-trade piracy. In one word, nothing was done, save that the Captain-General of Cuba, the Minister at home, the Camarilla, and, if rumor speaks truth, royal personages themselves, raised a private tax upon the slavers, selling the license of dealing in human flesh and blood at so many doubloons per head.
Tradução: No que se refere ao comércio de escravos propriamente dito, a Espanha foi denunciada pelo Bispo de Oxford, assim como por Lord Brougham, como o principal esteio daquele tráfico nefando. (...) Somente dez anos depois, a tal lei foi aprovada; porém, por um infortúnio singular, a principal cláusula sustentada pela Inglaterra não foi incluída. Nomeadamente, aquela que tornava o tráfico escravo um ato de pirataria. Em uma palavra, nada foi feito exceto que, o Capitão-Geral de Cuba, o Ministro do Interior, a Camarilla e, se os rumores dizem a verdade, figuras da própria família real, instituíram um imposto privado a ser pago pelos escravocratas, em troca da concessão de uma licença para comercializarem carne e sangue humano ao preço de algumas moedas por cabeça.

(…) Here it is that the shoe pinches. In steps the sinister figure of the “august ally,” now the acknowledged guardian angel of the slave-trade. The third Bonaparte, the patron of Slavery in all its forms, forbids England to act up to her convictions and her treaties.
Tradução: É aqui que entra em cena a sinistra figura do “augusto aliado” agora reconhecido como o anjo da guarda do comércio de escravos. O terceiro Bonaparte, o patrono da escravidão em todas as suas formas, proíbe à Inglaterra de colocar em prática suas convicções e seus tratados.

Lord Malmesbury, it is known, is strongly suspected of an undue intimacy with the hero of Satory. Nevertheless, he denounced him in plain terms as the general slave-dealer of Europe — as the man who had revived the infamous traffic in its worst features under the pretext of “free emigration” of the blacks to the French colonies.
Tradução: Lord Malmesbury, como se sabe, é fortemente suspeito de manter uma intimidade indevida com o herói de Sartory. Não obstante, ele o denunciou abertamente como o principal traficante de escravos da Europa, como o homem que fez reviver o tráfico infame em suas piores características sob o pretexto da “imigração livre” de negros para as colônias francesas.

(…) To convert France into a slave-trading nation would be the surest means of enslaving France, who, when herself, had the boldness of proclaiming in the face of the world: Let the colonies perish, but let principles live! One thing at least has been accomplished by Bonaparte. The slave-trade has become a battle-cry between the Imperialist and the Republican camps. If the French Republic be restored to-day, to-morrow Spain will be forced to abandon the infamous traffic.
Tradução: Converter a França em uma nação de comerciantes de escravos era a maneira mais segura de escravizar a própria França, o país que havia tido a grandeza de proclamar diante do mundo: Que as colônias pereçam, mas que vivam os princípios! Uma coisa pelo menos foi conseguida por Bonaparte, o comércio de escravos se tornou um grito de guerra na disputa entre os partidários do Império e os defensores da República. Se a República Francesa for restaurada hoje, amanhã a Espanha será obrigada a abandonar o tráfico nefando.

 

The North American Civil War


Written: October 1861;
Source: Marx/Engels Collected Works, Volume 19;
Publisher: Progress Publishers, Moscow, 1964;
First Published: Die Presse No. 293, October 25, 1861;

In the foreign, as in the domestic, policy of the United States, the interest of the slaveholders served as the guiding star. Buchanan had in fact bought the office of President through the issue of the Ostend Manifesto, in which the acquisition of Cuba, whether by purchase or by force of arms, was proclaimed as the great task of national policy. Under his government northern Mexico was already divided among American land speculators, who impatiently awaited the signal to fall on Chihuahua, Coahuila and Sonora. The unceasing piratical expeditions of the filibusters against the states of Central America were directed no less from the White House at Washington. In the closest connection with this foreign policy, whose manifest purpose was conquest of new territory for the spread of slavery and of the slaveholders' rule, stood the reopening of the slave trade, secretly supported by the Union government. St[ephen] A. Douglas himself declared in the American Senate on August 20, 1859: During the last year more Negroes have been imported from Africa than ever before in any single year, even at the time when the slave trade was still legal. The number of slaves imported in the last year totalled fifteen thousand.
Tradução: Nas políticas interna e externa dos Estados Unidos, o interesse dos donos de escravos serviu de estrela-guia. Buchanan tinha de fato comprado o cargo de presidente através da questão do manifesto de Ostend, no qual a aquisição de Cuba, pelo roubo ou por força das armas é apregoada como a grande tarefa da política nacional. Sob seu governo, o norte do México já foi dividido entre os especuladores de terras americanos, que esperaram impacientemente o sinal para cair sobre Chihuahua, Coahuila e Sonora. As infindáveis expedições de pirataria contra os Estados da América Central foram igualmente dirigidas da Casa Branca, em Washington. Posta na mais íntima relação com a política externa, cujo propósito evidente era a conquista de novos territórios para a expansão da escravatura e do jugo dos senhores de escravos, estava a reabertura do mercado escravagista apoiada secretamente pelo governo da União. St(ephen) A. Douglas declarou em 1859: “Durante o ano passado houve mais encomendas de negros da África do que em qualquer outro ano, mesmo na época em que o mercado de escravos ainda era legal.  O número de escravos importados no ano passado chegou a quinze mil.

A Abraham Lincoln, Presidente dos Estados Unidos da América[N10]


Karl Marx

22 - 29 de Novembro de 1864

Escrito entre 22 e 29 de Novembro de 1864. Publicado em The Bee-Hive Newspaper, n.º 169, de 7 de Janeiro de 1865.

Sir:
We congratulate the American people upon your re-election by a large majority. If resistance to the Slave Power was the reserved watchword of your first election, the triumphant war cry of your re-election is Death to Slavery.
From the commencement of the titanic American strife the workingmen of Europe felt instinctively that the star-spangled banner carried the destiny of their class. The contest for the territories which opened the dire epopee, was it not to decide whether the virgin soil of immense tracts should be wedded to the labor of the emigrant or prostituted by the tramp of the slave driver?
When an oligarchy of 300,000 slaveholders dared to inscribe, for the first time in the annals of the world, "slavery" on the banner of Armed Revolt, when on the very spots where hardly a century ago the idea of one great Democratic Republic had first sprung up, whence the first Declaration of the Rights of Man was issued, and the first impulse given to the European revolution of the eighteenth century; when on those very spots counterrevolution, with systematic thoroughness, gloried in rescinding "the ideas entertained at the time of the formation of the old constitution", and maintained slavery to be "a beneficent institution", indeed, the old solution of the great problem of "the relation of capital to labor", and cynically proclaimed property in man "the cornerstone of the new edifice" — then the working classes of Europe understood at once, even before the fanatic partisanship of the upper classes for the Confederate gentry had given its dismal warning, that the slaveholders' rebellion was to sound the tocsin for a general holy crusade of property against labor, and that for the men of labor, with their hopes for the future, even their past conquests were at stake in that tremendous conflict on the other side of the Atlantic. Everywhere they bore therefore patiently the hardships imposed upon them by the cotton crisis, opposed enthusiastically the proslavery intervention of their betters — and, from most parts of Europe, contributed their quota of blood to the good cause.
While the workingmen, the true political powers of the North, allowed slavery to defile their own republic, while before the Negro, mastered and sold without his concurrence, they boasted it the highest prerogative of the white-skinned laborer to sell himself and choose his own master, they were unable to attain the true freedom of labor, or to support their European brethren in their struggle for emancipation; but this barrier to progress has been swept off by the red sea of civil war.
The workingmen of Europe feel sure that, as the American War of Independence initiated a new era of ascendancy for the middle class, so the American Antislavery War will do for the working classes. They consider it an earnest of the epoch to come that it fell to the lot of Abraham Lincoln, the single-minded son of the working class, to lead his country through the matchless struggle for the rescue of an enchained race and the reconstruction of a social world.

Tradução


Senhor,
Felicitamos o povo Americano pela sua reeleição por uma larga maioria. Se a palavra de ordem reservada da sua primeira eleição foi resistência ao Poder dos Escravistas, o grito de guerra triunfante da sua reeleição é Morte à Escravatura.
Desde o começo da titânica contenda americana, os operários da Europa sentiram instintivamente que a bandeira das estrelas carregava o destino da sua classe. A luta por territórios que desencadeou a dura epopéia não foi para decidir se o solo virgem de regiões imensas seria desposado pelo trabalho do emigrante ou prostituído pelo passo do capataz de escravos?
Quando uma oligarquia de 300 000 proprietários de escravos ousou inscrever, pela primeira vez nos anais do mundo, «escravatura» na bandeira da Revolta Armada, quando nos precisos lugares onde há quase um século pela primeira vez tinha brotado a idéia de uma grande República Democrática, de onde saiu a primeira Declaração dos Direitos do Homem e de onde foi dado o primeiro impulso para a revolução Européia do século XVIII; quando, nesses precisos lugares, a contra-revolução, com sistemática pertinácia, se gloriou de prescindir das «idéias vigentes ao tempo da formação da velha constituição» e sustentou que «a escravatura é uma instituição beneficente», [que], na verdade, [é] a única solução para o grande problema da «relação do capital com o trabalho» e cinicamente proclamou a propriedade sobre o homem como «a pedra angular do novo edifício» — então, as classes operárias da Europa compreenderam imediatamente, mesmo antes da fanática tomada de partido das classes superiores pela fidalguia Confederada ter dado o seu funesto aviso, que a rebelião dos proprietários de escravos havia de tocar a rebate para uma santa cruzada geral da propriedade contra o trabalho e que, para os homens de trabalho, [juntamente] com as suas esperanças para o futuro, mesmo as suas conquistas passadas estavam em causa nesse tremendo conflito do outro lado do Atlântico. Por conseguinte, suportaram pacientemente, por toda a parte, as privações que lhes eram impostas pela crise do algodão, opuseram-se entusiasticamente à intervenção pró-escravatura — importuna exigência dos seus superiores — e, na maior parte das regiões da Europa, contribuíram com a sua quota de sangue para a boa causa.
Enquanto os operários, as verdadeiras forças políticas do Norte, permitiram que a escravatura corrompesse a sua própria república, enquanto perante o Negro — dominado e vendido sem o seu consentimento — se gabaram da elevada prerrogativa do trabalhador de pele branca de se vender a si próprio e de escolher o seu próprio amo, foram incapazes de atingir a verdadeira liberdade do trabalho ou de apoiar os seus irmãos Europeus na sua luta pela emancipação. Mas esta barreira ao progresso foi varrida pelo mar vermelho da guerra civil.
Os operários da Europa sentem-se seguros de que, assim como a Guerra da Independência Americana iniciou uma nova era de ascendência para a classe média, também a Guerra Americana Contra a Escravatura o fará para as classes operárias. Consideram uma garantia da época que está para vir que tenha caído em sorte a Abraham Lincoln, filho honesto da classe operária, guiar o seu país na luta incomparável pela salvação de uma raça agrilhoada e pela reconstrução de um mundo social.

To the People of the United States of America


Source: Minutes of the General Council of the International Workingmen’s Association, 1864-1886, Progress Publishers, 1964, printed according to the newspaper;
Written: in September 1865;
First Published: in The Workman’s Advocate, No. 136, October 14, 1865;
We have next to congratulate you that the cause of these years of suffering is now removed — Slavery is no more. That dark spot on your otherwise fair escutcheon is blotted out for ever. No more shall the salesman’s hammer barter human flesh and blood in your market places, causing humanity to shudder at its cold barbarity.
Tradução: Devemos agora congratulá-los, pois a causa destes anos de sofrimento foi eliminada. A escravidão não existe mais. A mancha sombria que maculava vosso escudo de armas, sob outros aspectos justo, foi removida para sempre. Nunca mais o vendedor de escravos apregoará o comércio de carne e sangue humanos nos mercados públicos, chocando a humanidade com esta insensível barbárie.

Acerca das relações de Karl Marx com seu genro Paul Lafargue (a primeira pessoa na história a receber o epíteto de “marxista”), reproduzirei o relato apresentado pelo cientista político negro norte-americano, August Mimtz, Jr (Professor da Universidade de Minnesotta).
“Em 1868, a filha de Marx, Laura, esposou Lafargue, que possuía origem africana; sua avó maternal era uma mulata Haitiana. Ele também tinha antepassados entre os povos indígenas das Américas. Não existe evidência de que isto tenha sido motivo de preocupação para os Marx no momento em que Paul se dispôs a casar com Laura obteve a autorização do casal. (...) A biografa mais autorizada de Lafargue [Leslie Derfler, Paul Lafargue and the Founding of French Marxism, 1842-1882, Cambridge: Harvard University Press, 1991, p. 4] escreve que, “Embora tivessem naturalmente conhecimento das origens raciais de Lafargue, os Marx não manifestaram sinais efetivos de preconceito... suas referências à ascendência negra de Lafargue eram realizadas em termos afetuosos e alegres e vistos como uma fonte de divertimento e não de preocupação. De acordo com a mesma biografa, ao longo de toda sua vida Lafargue permaneceu sensível às questões relacionadas à cor da pele. Quando em um congresso internacional [1911] o marxista estadunidense Daniel DeLeon perguntou a Lafargue sobre suas origens, ele prontamente respondeu, ´sou descendente de negros, com muito orgulho´.
Durante as conversas mantidas entre os pais de Laura e Paul acerca do futuro casamento, Marx apresentou ao pai de Lafargue pela primeira vez um comentário que apareceria um ano depois no Capital. “Você deve ter se deliciado tanto com a derrota do Presidente Johnson nas últimas eleições quanto eu. Os trabalhadores do norte finalmente compreenderam satisfatoriamente que o trabalhador branco jamais se emancipará enquanto o trabalhador negro permanecer estigmatizado”. Encontra-se implícito aqui um sentimento comum de oposição às práticas racistas da administração Johnson e um otimismo –indevido, como seria demonstrado pela história- na avaliação de que nas eleições para o Congresso de 1866 os trabalhadores brancos dos Estados Unidos haviam reconhecido as vantagens de lutar contra o racismo. Este episódio sugere que Marx sempre procurou envolver o pai de Lafargue com a discussão de questões raciais. Pode-se também supor que, justamente devido às origens africanas do pai de Lafargue, Marx se sentia à vontade para dialogar com ele acerca destas questões.
Outra situação que chegou até nós sobre a atitude de Marx frente às origens de Lafargue teria se verificado durante a lua de mel do casal. Em uma carta endereçada tanto à Laura quanto a Paul, o sogro Marx destacava que “haver me enviado livros em um momento tão crítico, revela muito sobre a gentileza inata deste ´jovem´. Este simples fato serve para demonstrar que ele pertence a uma raça melhor do que a dos europeus.” [Derfler, p. 43]. Cerca de um ano depois, em 1869, em um comentário provavelmente dirigido a Lafargue, Marx escreveu: “Envio meus comprimentos ao africano. Ele vai gostar muito de saber que o primeiro embaixador ‘negro’ dos Estados Unidos acaba de ser nomeado pelo [Presidente] Grant”. [Idem, p. 271].
“Africano” era um dos numerosos termos afetuosos utilizados no seio da família e entre os amigos para se referir a Lafargue, sendo os outros, “criole”, “negrillo”, “gorila”, e até “crioulo” [nigger]. (Marx, como já foi notado, era conhecido nos mesmos círculos como “Mouro” devido aos seus traços escuros.) O comentário em si sugere que Marx imaginava que a situação dos negros estivesse verdadeiramente se incrementando na presidência de Grant. Uma possível evidência de que Marx e Engels, como a maioria das pessoas da época, não se davam conta de que a reconstrução estava no seu leito de morte.

Passagens extraídas do livro de August Nimtz Jr: Marx, Tocqueville and Race in America: The “Absolute Democracy” or “Defiled Republic Lanham, MD: Lexington Books, 2003, pp, 109-110.

Nenhum comentário:

Postar um comentário